
Estética acima da vida
Por André Catelli
Quem projeta está
acostumado a submeter-se ao Corpo de Bombeiros ao longo da Licença Prévia do
projeto e da Licença de Habite-se da obra. O carimbo de aprovação na primeira e
a construção do edifício de acordo com os parâmetros nela indicados não garantem
a segunda. Não é raro que o construtor se veja obrigado a realizar obras após o
prédio pronto, para adequá-lo às novas exigências, feitas invariavelmente por
analistas diferentes daqueles que autorizaram o início da obra, com visão
própria da legislação. O carimbo não é
do Corpo de Bombeiros. É do analista X, e o analista Y, anos depois, discorda
de sua interpretação das leis.
Problemas à parte, a
exigência mais básica diz respeito, normalmente, a guardas vazadas em locais
onde poderia haver risco de lesões e de morte por queda. Elas devem estar nas
varandas, escadas, rampas, em desníveis abruptos de meio metro, um metro. Mesmo
escadarias com poucos degraus, mas largas, devem ter corrimãos a cada 1,65 m. A
vida em primeiro lugar.
Em segundo lugar, na verdade.
Em primeiro deve estar a estética dos cartões postais da cidade. O que é uma
criança acidentada perto de uma obra de gênio maculada por vis e utilitários
guarda-corpos? Nada. Ademais, a rampa é larga o suficiente para que acidentes
jamais aconteçam. A linha branca de suas bordas é a barreira visual que mantém
o visitante longe das beiradas. E os pais devem ser responsáveis pelos seus
filhos. Não visitam encostas, falésias como as de Pipa, no Rio Grande do Norte?
Querem guarda-corpos por lá também?
Para os demais mortais, todo
o rigor da lei.